Viticultura
Uma história de resiliência
em 2022
Viticultura de encosta
A região do Douro é a mais antiga região demarcada de vinhos do mundo. Possui uma paisagem única que combina a presença monumental do rio Douro, com encostas íngremes povoadas por vinhedos e áreas naturais de matos e floresta mediterrânea. É uma região conhecida pela sua tradição vitivinícola, sendo o vinho do Porto um dos principais vetores de dinamização da cultura, das tradições e, principalmente, da economia local.
Acreditamos que o caminho para a prosperidade do Douro, enquanto região vitivinícola, passa por combinar o conhecimento ancestral com tecnologia de ponta, adaptando as práticas vitícolas para aumentar a resiliência das vinhas às ameaças climáticas, a reduzir o peso do trabalho agrícola manual, a proteger e restaurar os habitats, bem como a potenciar a riqueza patrimonial do território.
Viticultura sustentável
Atualmente gerimos cerca de 1130 hectares de vinha na região do Douro. Cada ano replantamos o equivalente a 3% das nossas vinhas de forma a garantir a sua sustentabilidade a longo prazo.
As nossas vinhas estão certificadas em modo de produção integrada, que se define como um sistema agrícola de produção de alimentos e de outros produtos alimentares de alta qualidade, com gestão racional dos recursos naturais e privilegiando a utilização dos mecanismos de regulação natural em substituição de fatores de produção, contribuindo, deste modo, para uma agricultura sustentável. Além disso, temos aumentado a nossa área de vinha em modo de produção biológico no Vale da Vilariça, que chegará em breve aos 205 hectares.
Entendemos que a sustentabilidade na viticultura passa por um modelo assente em duas estratégias complementares, por um lado apostar numa agricultura de precisão e, por outro, intensificar as ações de base ecológica, potenciando os serviços dos ecossistemas em benefício de uma produção agrícola gradualmente de menor impacto.
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Tecnologia sofisticada
Sistema de Informação Geográfica
Imagens infravermelho de satélite e drone -
Alterações climáticas
Fertilizantes orgânicos
Pastoreio -
Eficiência hídrica
Gestão do stress hídrico
Rega deficitária -
Suporte à comunidade
Mão de obra local
Suporte técnico aos lavradores -
Nutrição das plantas
Análises do solo
Análises de folhas -
Conservação da natureza
Muros de pedra - abrigos de biodiversidade
Vegetação selvagem
Viticultura de precisão
A introdução de tecnologias de informação no nosso processo de produção agrícola foi iniciada, em 2007, através do uso de imagens aéreas de infravermelhos no mapeamento 2D das vinhas, mais precisamente, na obtenção de dados sobre estado vegetativo e sobre o estado de maturação das várias castas e parcelas.
Em 2010, estas imagens passaram a integrar a nossa plataforma SIG-Vinha otimizando os processos de gestão, por possibilitarem uma tomada de decisão mais precisa, especialmente crítica na altura da vindima. Sendo o uso da água um tema central numa produção agrícola cada vez mais otimizada e responsável, temos instalado nas nossas quintas estações meteorológicas e sensores da humidade do solo.
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Saúde do solo
Cobertura vegetal
Mobilização mínima -
Controlo de pragas
Colocação de armadilhas
Caixa-abrigo para morcegos -
Gestão de resíduos
Degradação biológica de pesticidas
Reciclagem de embalagens -
Segurança no trabalho
Formação e sensibilização
Equipamento de proteção individual -
Poupança energética
Painéis fotovoltaicos
Redução do trajeto das uvas -
Monitorização
Visitas de campo
Recolha inteligente de dados
Rega deficitária
A vinha é por excelência uma cultura muito pouco exigente em termos de consumo de água.
Como resposta aos fenómenos cada vez mais severos de calor extremo, as videiras desenvolvem estratégias de adaptação ao nível do sistema radicular e parede de vegetação. Ainda assim, para a manutenção de um ciclo vegetativo equilibrado, em especial na altura da maturação, é desejável que a planta consiga manter um estado hídrico que esteja orientado para os objetivos qualitativos da respetiva vinha. Neste sentido, o que fazemos é uma gestão do stress hídrico das videiras, repondo água, se necessário, sempre de forma deficitária, em função da evolução dos parâmetros climáticos provenientes da rede de estações climáticas, dos dados de potencial hídrico da videira, medido por meio de câmara de pressão, da disponibilidade de água do solo, monitorizado por meio de sondas, fixas e móveis, capazes de medir o teor de humidade disponível em profundidade, conciliando estes dados com as características físicas dos solos.
Recentemente, demos mais um passo no conhecimento sobre a regulação de água nas videiras, ao instalar diretamente nas plantas, medidores do fluxo de seiva, denominados Sap-flows. Este nível de sensorização mais fino, recolhe dados de transpiração da planta em tempo real, permitindo perceber, por exemplo, o uso eficiente de água pela planta, a sua resistência à secura, a relação entre os níveis de humidade no solo e os fluxos de água na planta, introduzindo novos dados na decisão de quando e quanto regar, ou seja, afinar a estratégia de rega, num contexto de adaptação às alterações climáticas.
Saúde do ecossistema
A saúde dos solos é condição essencial para o normal funcionamento das videiras, para uma maturação equilibrada das uvas e, por conseguinte, para a produção de vinhos excecionais. Estamos a trabalhar para que os nossos solos sejam um habitat rico em microrganismos, capazes de reter mais humidade, e mais resistentes aos fenómenos de erosão. Somos cautelosos nas intervenções que fazemos, queremos deixar a natureza e os seus ciclos naturais funcionarem. Procuramos intervir mínima e indiretamente, para que a nossa ação não se sobreponha às respostas dos ecossistemas, que tendem naturalmente para a criação de equilíbrio e de resiliência. Preferimos contribuir para o seu reforço por meio de soluções de base natural, como a prática de enrelvamento, a incorporação de composto orgânico e a criação de condições para que a fauna e flora indígenas floresçam.
A manutenção de enrelvamentos nas vinhas, naturais ou semeados, é uma prática crucial para a conservação da saúde do solo, na medida em que promove uma melhoria da sua estrutura, uma resistência aos efeitos de erosão, a retenção de humidade, bem como a promoção de simbioses entre o sistema radicular desses enrelvamentos e as comunidades biológicas ali presentes, promovendo a sua biodiversidade. Neste momento, estamos a desenvolver estudos no campo com sete combinações distintas de espécies vegetais que procuram avançar no conhecimento sobre os impactes de cada espécie ao nível do microbioma do solo, e benefícios para a videira. O objetivo deste estudo é um conhecimento mais profundo sobre o efeito benéfico destas espécies no ecossistema da vinha, de forma que possam constituir soluções na melhoria do potencial de adaptação climática.
No que diz respeito ao controlo de pragas, como a traça-da-uva (Lobesia botrana) e a cigarrinha-verde (Empoasca vitis), recorremos ao uso de armadilhas de confusão sexual ou cromotrópicas, para monitorização da população de insetos, auxiliando na determinação da janela ideal de tratamento, bem como na seleção do meio de controlo mais adequado, para um tratamento de precisão. Por outro lado, no combate à cigarrinha-verde, estamos a introduzir colónias de morcegos que são predadores naturais deste inseto, junto a castas especialmente suscetíveis, que se for bem-sucedido, levará a uma redução do número de tratamentos convencionais.
No campo das doenças da vinha, estamos a testar o uso de um biofungicida, derivado do tremoço, tendo já obtido resultados positivos e promissores no tratamento preventivo do oídio e da podridão cinzenta, quando comparados com parcelas cujo tratamento foi realizado por meio de produtos convencionais.
Referencial Nacional de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola
Em junho de 2023, tivemos uma notícia de que muito nos podemos orgulhar: fomos o 1.º produtor de vinhos a receber a certificação de vitivinicultor sustentável pelo Referencial Nacional de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola, tendo-nos sido atribuído o ‘Nível A’, ou seja, a máxima classificação. O referencial foi recentemente criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho e pela ViniPortugal especificamente para o setor vitivinícola português. Pretende ser um garante visível e independente dos vinhos portugueses nos mercados internacionais, sublinhando a sua credibilidade e confiabilidade, bem como demonstrar o compromisso dos produtores com a produção sustentável.